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Professor da Unifesp fala sobre fenômeno do mar fluorescente


O curioso fenômeno das ondas fluorescentes tem gerado polêmica entre os moradores da baixada santista nas últimas semanas. Afim de entender melhor o que tem acontecido o Jornal Santista entrevistou o professor Jose Juan Alba que é especialista em oceanografia biológica e professor de ciências do mar na Unifesp.

Foto de Lucas Ettore Chiereguini - Ciências do Mar
Professor, o que tem produzido esse fenômeno, é uma alga, animal ou planta?
O fenômeno se denomina bioluminescência e acontece devido à presença de organismos planctônicos bioluminescentes em grande densidade.

O organismo responsável foi um dinoflagelado heterotrófico (não faz fotossíntese) denominado Noctiluca scintillans, cujo tamanho geralmente varia entre 0,2 e 1 mm. A luz produzida por ele é resultado da oxidação da luciferina catalisada pela enzima luciferase quando o organismo é submetido a um estímulo mecânico, como podem ser as ondas, passagem de embarcações, etc.

Quais são as hipóteses de causa desse fenômeno tão incomum na região, pode estar relacionado a poluição?

Não necessariamente, na verdade esse organismo é encontrado comumente em regiões marinhas desde ambientes temperados (latitudes médias) a ambientes subtropicais e tropicais, e florações deste dinoflagelado tem sido também comumente descritas em diversas regiões do mundo. Essas florações são conhecidas como marés vermelhas e apresentam geralmente colorações entre laranja e avermelhado.

Entre as causas dessas florações podem estas o aumento de populações de organismos planctônicos que seriam predados por Noctiluca scintillans, como fitoplâncton (microalgas) e microzooplâncton, cuja proliferação pode ter diversas causas como o aumento de nutrientes e condições ambientais favoráveis para o seu crescimento. Para determinar as causas exatas dessa floração e se está relacionada com a poluição são necessários estudos que avaliem as condições ambientais.

Amostras foram coletadas, você considera importante que estudos sejam feitos para tentar entender a presença do Noctiluca em Santos e na região?

Essa espécie não é considerada tóxica, mas pode ser considerada como formadora de florações nocivas porque podem causar efeitos negativos sobre outros organismos como esgotamento de oxigênio na água, entupimento de brânquias, diminuição da intensidade luminosa na coluna de água, etc.

Imagem microscópica do Noctiluca scintillans coletado pelo professor

Diversos estudos têm mostrado também que Noctiluca scintillans pode também atuar como vetor de ficotoxinas para níveis tróficos superiores (peixes, moluscos, etc) quando se alimenta de espécies de microalgas produtoras de toxinas. 

Assim, é importante não somente o monitoramento da presença de Noctiluca scintillans, mas também verificar a presença associada de microalgas produtoras de toxinas. Neste sentido, é importante manter programas de monitoramento que avaliem tanto as populações responsáveis pelas florações quanto as condições ambientais nas quais se desenvolvem.

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