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Ecossocialismo ou extinção! A sanha do lucro extrapola os limites da natureza e da vida humana


*Por  Mariana Luppi e Vazquez Denise


Desde que surgiu, o sistema capitalista transforma a natureza em mercadoria, por sua vez, para gerar outras mercadorias. Sua sanha em ampliar os lucros é mais importante.

O crescimento do capital é predatório. Sua necessidade de autorreprodução torna-se mais importante que o limite da vida humana e os limites da natureza.

A destruição das florestas, a poluição do solo, dos rios, mares, da água subterrânea e atmosférica, as mudanças climáticas, tudo é fruto de um sistema que precisa ir sempre “para frente”, olhando para trás apenas no intuito de lucrar com a destruição. A superexploração dos recursos naturais leva a desequilíbrios que extinguem espécies e afetam a vida humana.

Crimes ambientais recentes como os ocorridos em Mariana, em Minas Gerais, com o rompimento da barragem de rejeitos e o vazamento de gás tóxico no Porto de Santos, em São Paulo, são exemplos do que esse impacto pode significar para a vida humana e para o ambiente.

Esse sistema capitalista se sustenta sob uma ideologia produtivista, que leva à mercantilização de todos os aspectos da vida e à superprodução de mercadorias a partir das obsolescências programada e perceptiva e do estímulo ao consumismo. Ou seja, mercadorias programadas para avariar ou para se tornarem obsoletas.

Em países com história de colonização recente, a tendência é que essa superexploração dos recursos da natureza seja ainda mais violenta e rápida – como também a exploração da força de trabalho.

Adoção da monocultura no agronegócio, superexploração dos recursos minerais e florestais, o genocídio das populações originárias, essas são tendências generalizadas em diversas partes do mundo.

No Brasil não é diferente. Em 13 anos de governo do PT, houve um grande retrocesso na política ambiental.

Por exemplo: a autorização de produção de alimentos transgênicos; a transposição do Rio São Francisco (criticada pela baixa eficiência), a construção das hidrelétricas no Rio Madeira de Santo Antônio e Jirau, que além de terem autorização negada pelo IBAMA, registraram trabalho escravo; a hidrelétrica de Belo Monte, que entre muitas ilegalidades ambientais, ainda ameaça comunidades indígenas do Rio Xingú; a alteração do Código Florestal, arquitetado pela bancada ruralista e, em seguida, apesar da rejeição de 85% da população, aprovado por Dilma Roussef; os recordes de desmatamento na Amazônia logo após a alteração desse Código; a falta de demarcação das terras indígenas; além do pouco avanço da reforma agrária.

O governo golpista de Michel Temer aprofundou essas tendências e cedeu ainda mais à iniciativa privada. Ele reduziu áreas de proteção ambiental na Amazônia, promoveu alterações no Código da Mineração e ainda adiou o prazo do Cadastro Ambiental Rural - importante instrumento para recuperação ambiental em propriedades privadas.

Bancado pelo lobby petrolífero, o ilegítimo governo aprovou a cobrança de royalties sobre o resultado da exploração da energia eólica, energia essa limpa e renovável.

Uma perspectiva ecossocialista mostra-se necessária para a superação real desse sistema econômico destrutivo, em contraponto aos discursos produtivistas e desenvolvimentistas.

Significa, também, refletir sobre a necessidade de descentralização da produção econômica e das decisões políticas.

Precisamos desenvolver processos realmente democráticos com forte participação popular, em conjunto com o conhecimento dos povos originários e das comunidades tradicionais, permitindo o estabelecimento de uma relação harmônica com a natureza.

Nosso programa deve incluir acúmulos do próprio movimento ambientalista, como incentivo a energias limpas, uso racional da água, fomento a modelos de alimentação alternativos ao agronegócio, ênfase no transporte público, redução coletiva do consumo, gerenciamento dos resíduos sólidos e a criação de áreas ambientais de proteção e ênfase na conservação dos biomas brasileiros.

Mariana Luppi é graduada em Filosofia pela USP e mestranda em Literatura, também pela USP.

Denise Manfio é Tecnóloga em Saneamento Ambiental pela Unicamp e Mestra em Engenharia Civil, na área de Saneamento Ambiental, pela Unicamp.

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