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9 de Março: Uma manifestação pela morte em Santos

Em um cenário frequentemente agitado por disputas sociais e confrontos, várias manifestações ao longo dos anos desfiaram abertamente os pilares dos Direitos Humanos e a valorização da vida. Estes eventos revelaram de parte da sociedade, uma recusa explícita à dignidade humana e infringiram diretamente os direitos fundamentais à vida e à liberdade.

Nos Estados Unidos, a trajetória da Ku Klux Klan (KKK) exemplifica dolorosamente como certas manifestações podem se transformar em canais de ódio e agressão. Originária do período pós-Guerra Civil, a organização fez campanhas de terrorismo contra afro-americanos, judeus e imigrantes, adotando linchamentos, incêndios criminosos e ameaças para coagir essas comunidades. Suas marchas e ações públicas não somente difundiam a ideologia da supremacia branca, mas também visavam a eliminação física de grupos considerados inferiores ou ameaçadores à sua concepção de ordem social.


No Brasil, a polarização social, tem raízes socio-históricas profundas e manifestações contra os Direitos Humanos já ocorreram em diversos momentos. Um exemplo é a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 1964, que reuniu setores conservadores brasileiros em apoio ao golpe militar, alegando combate ao comunismo. Esse movimento culminou em um regime autoritário que, por duas décadas, cometeu incontáveis violações aos direitos humanos. Além disso, é importante destacar que o Brasil já registrou a filiação de mais de 100 mil pessoas a Ação Integralista Brasileira, uma versão nacional do partido nazista, evidenciando não apenas a direita mas existência de correntes de pensamento extremistas no país, que existem há muito tempo e que estão bem enraizadas até hoje.


Ontem, dia 9 de março, uma nova manifestação contra os Direitos Humanos aconteceu em Santos,  em apoio à Operação Verão da Polícia Militar. A manifestação foi organizada por deputados que abertamente compõem a “Bancada da Bala”, junto com comandantes da PM e alguns vereadores de Santos.


A absurda e elevada letalidade policial na Baixada Santista, apresentada como uma espécie de vingança pela morte de um policial da Rota no início de março de 2024, exemplifica uma grave afronta à vida humana em nossa região. A resposta totalmente desmedida das autoridades já resultou em mais de 50 mortes em menos de dois meses, um número alarmante especialmente quando comparado à média de letalidade em regiões mais populosas como São Paulo. A reação da polícia implica uma vingança brutal que vai além dos envolvidos nos episódios iniciais, mas também afeta comunidades inteiras, fomentando um clima de medo e insegurança.




As denúncias de mortes de civis pela comunidade, classificadas como execuções extrajudiciais, aumentam a cada dia. Um caso emblemático é o de José Marcos Nunes da Silva, um coletor de recicláveis que, conforme relatado por sua família, não estava envolvido em atividades criminosas e suplicou pela sua vida, desarmado, antes de ser fatalmente assassinado.


A perspectiva racial desta violência é particularmente perturbadora, considerando que a maioria das vítimas dessas operações policiais são indivíduos negros, reflete as desigualdades raciais e sociais arraigadas na sociedade brasileira. Essas ocorrências colocam lado a lado o terrorismo racial promovido pela KKK e a letalidade policial na Baixada Santista. E nós exige uma análise crítica das políticas de segurança pública, da justiça racial e da preservação dos direitos humanos.


Para que Santos e a Baixada Santista avance em termos sociais e valorização da vida, é preciso a imediata interrupção dessa politica de morte, seguida pela implementação de políticas públicas abrangentes que incluam habitação, trabalho, educação, saúde, assistência social e saneamento básico. O objetivo dessas medidas deve ser promover o desenvolvimento humano e melhorar a qualidade de vida dos moradores locais que sofrem severamente as consequências, especialmente as comunidades negras e de baixa renda, frequentemente marginalizadas pelas políticas governamentais.

Escrito por Héric Moura e Darlene Regina


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