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A persistência das falsas alternativas


por Gilson Amaro e Valério Paiva*

Já afirmou um grande pensador que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes, ao que outro ainda maior completou: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Ao observar os descaminhos da política nacional e a ilusão realimentada com o lulismo, podemos atestar a validade desta máxima.

Lula navega em uma farsa turbulenta, com tudo para se tornar uma tragédia para os que a comprarem. Montada para usar a impopularidade do governo ilegítimo de Michel Temer do PMDB, e agora o combate a Lava Jato, recolocando justamente quem fortaleceu as oligarquias regionais reacionárias dentro do aparato do Estado Brasileiro ao longo de 13 anos.

Hoje Lula é peça chave de um acordão para salvar diversas cabeças do establishment político nacional e preservar a espinha dorsal do sistema que une supostos inimigos, em negócios nada republicanos, os quais as delações da Odebrecht apenas revelaram apenas um pedaço da ponta do iceberg.

Salta aos olhos que setores populares foram protestar na defesa de Lula dia 10 de maio, ao mesmo tempo em que este chega em Curitiba de jatinho particular, emprestado pelo grande empresário da educação e saúde privada Walfrido Mares Guia, notório defensor da mercantilização da educação e saúde. Como sabemos, quem paga a banda escolhe a música.

Enquanto muitos foram para Curitiba movidos pelo medo da perda de direitos previdenciários e trabalhistas, outros jogam combustível no motor do grande partido da ordem no Brasil, nutrindo ilusões com a ala esquerda da ordem do capital representada pelo petismo e seus aliados. Vale lembrar que a compra de parlamentares para compor a base dos governos petistas, conhecida como Mensalão, diz respeito exatamente sobre o modo de governar do PT. A reforma da previdência levada a ferro, fogo e grana pelo governo Lula em 2003, retirando direitos dos servidores públicos, foi aprovada pelo mesmo toma-lá-dá-cá que vemos hoje no governo ilegítimo de Michel Temer.

Já vivemos uma tragédia de grandes proporções que foi a traição do petismo de 2002, rasgando a promessa de “a esperança venceu o medo”, com o primeiro governo de Lula na pior lógica conciliação de classes, onde a elite brasileira saiu lucrando como nunca, em cima da esperança depositada por milhões de trabalhadores nas urnas. "Banqueiro não tinha porque estar contra o governo, porque os bancos ganharam dinheiro”, dizia Lula em 2006. Agora, na campanha antecipada de 2018, temos uma tentativa de volta do pior nível do velho, com o “medo venceu a esperança”.

O período histórico da hegemonia da esquerda no qual a referência era o campo composto por PT/CUT iniciado no final da década de 70, após o encerramento do ciclo de hegemonia do PCB, acabou no curto período entre a Carta Ao Povo Brasileiro de 2002 e a reforma da previdência de 2003.

O que vimos a partir daí, foi a consolidação de uma burocracia política que defendeu com unhas e dentes todos os ataques dos governos petistas aos setores populares e classe trabalhadora como um todo. Curioso que hoje estes mesmos atores voltam às ruas, que tanto criminalizavam enquanto estavam no poder, para criticar a reforma da previdência que a presidenta Dilma defendeu há poucos anos atrás. E sem nenhuma autocrítica de 2002.

Uma nova etapa está aberta, mas o petismo ainda deve ser superado. Se na década passada o “a esperança venceu o medo” representava um programa da classe trabalhadora, hoje isso é traduzido apenas pela propaganda da volta de Lula para a presidência, só que sem programa. Ou melhor, como representante mor dos setores que querem o retorno de uma espécie de pax romana no Brasil.

A polarização construída em torno da Operação Lava-Jato, comprovadamente seletiva e tendenciosa e no meio de uma verdadeira guerra-fria de interesses obscuros e paroquiais da direita brasileira, é de interesse direto do lulismo, cujo programa está cada vez mais resumido ao messianismo despolitizado.

Um eventual novo governo Lula pode ser eleito junto com a menor bancada do PT desde a década de 90, não que uma bancada ampla do petismo seja algo positivo. O que sobraria para esse eventual novo governo? Mais esquemas com Renan Calheiros e demais golpistas para garantir outra governabilidade?

Nosso projeto é outro. Devemos estar na construção da superação do conservadorismo, dos golpistas e do conjunto de erros e traições do petismo. A superação das falsas alternativas é necessária.

* Valério Paiva é Jornalista e colaborador do Jornal Santista
* Gilson Amaro é colaborador do Jornal Santista e militante do Coletivo Primeiro de Maio

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