De acordo com a definição, o etarismo é o preconceito contra pessoas com base na idade, sendo os idosos o grupo mais afetado por esse problema. Este artigo tem como objetivo trazer esse assunto para a pauta do Jornal Santista, a partir de algumas pinceladas da minha vivência.
Ao pagar minha conta numa padaria, a caixa me perguntou se meu cartão tinha aproximação. Respondi que não. Ao inserir o cartão na máquina ouvi a voz firme da caixa, com tom irônico: “O senhor lembra da senha?”. Não esbocei reação, mas naquela fala fui excluído da sociedade da “normalidade”.
No mesmo sentido, me remeto ao período crítico da covid-19. Vários programas diários da TV Globo, transmitiam reportagens massivas sobre a pandemia, incluindo entrevistas coletivas regulares com o então Ministro da Fazenda, Nelson Mandetta. Essas reportagens transmitiam claramente a ideia de que os idosos são incapazes de proteger a própria saúde.
Essa infantilização desse grupo gerou "memes" na internet e piadas em programas de humor que sugeriam que deveríamos "cuidar dos nossos idosos" e "trancá-los em casa". O peso do preconceito divulgado pelas notícias acabou segregando os idosos, não por sua maior vulnerabilidade, mas por sua suposta irresponsabilidade e infantilidade. O resultado dessas reportagens foi culpar os idosos pela propagação do vírus, retirando sua dignidade de pessoa e atribuindo esse estatuto às pessoas mais jovens.
Dessa forma, circular por absoluta necessidade em locais públicos suscitava uma espécie de “criminalização”, cuja pena poderia ser a imposição de diversas violências. Era assim que me sentia, com meus 63 anos, quando por sobrevivência tinha de ir a supermercados, farmácias, entre outros, constrangido, envergonhado, com a sensação de que poderia ser alvo de reações agressivas.
Outro aspecto do etarismo é a cruel presunção da assexualidade. Tem se no senso comum uma tendência de desconsiderar ou diminuir a expressão da sexualidade e da sensualidade em indivíduos mais velhos. Como dizem “Na velhice se volta a ser criança”. Essa ideia falsa reforça estereótipos negativos e limita a visão de que os idosos também têm desejos, necessidades e uma vida sexual ativa.
Na sociedade das coisas, a sexualidade é associada a corpos cada vez mais jovens (esta associação é ainda mais dura com as mulheres), criando um viés que desvaloriza ou até mesmo invisibiliza a sexualidade dos idosos que resulta em estereótipos de que os idosos não têm interesse ou capacidade de vivenciar relacionamentos íntimos, prazer sexual ou envolvimento romântico.
A assexualização dos idosos tem consequências terríveis. Pode levar à negação de direitos e serviços relacionados à saúde sexual, falta de informação sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, escassez de pesquisas e estudos sobre sexualidade na terceira idade, além de limitar as oportunidades para os idosos vivenciarem relacionamentos afetivos e prazeres relacionados à sexualidade.
O Etarismo está presente em todos os ambientes em que circulo, como academia e universidade, que se manifesta em olhares facilmente decifráveis, a não resposta a um cumprimento, a extrema dificuldade de se criar um ambiente de pertencimento, pelo potencial excludente do preconceito. A frase “tiozão do zap”, esclarece em muito o preconceito social.
É por meio dessa dinâmica de exclusão que, em 15 de junho de 2022, no Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) divulgou dados do Disque 100 (canal para denúncias), informando que, de janeiro a junho de 2022, foram registradas mais de 35 mil denúncias de violações de direitos humanos contra pessoas idosas. O ouvidor nacional de Direitos Humanos, Nabih Chram, acrescentou que "mais de 87% das violações ocorrem na casa onde o idoso reside". Das denúncias, 16 mil ocorreram na residência da vítima e do suspeito. Entre os agressores, os filhos são os principais responsáveis pelas violações, figurando como suspeitos em mais de 16 mil registros, seguidos por vizinhos (2,4 mil) e netos (1,8 mil).
As vítimas com idades entre 70 e 74 anos representam 5,9 mil registros, seguidas pelos idosos de 60 a 64 anos (5,8 mil), de 75 a 79 anos (4,7 mil) e de 85 a 89 anos (3,5 mil).
O título deste artigo é uma referência ao conceito Marxista sobre o “fetichismo da mercadoria”, no qual ele fala de atribuições de qualidades as "mercadorias". É neste universo das “coisas”, que as pessoas que cumprem o ciclo da vida (Nascer, crescer e morrer).O problema é que em determinado período do ciclo natural, é entendido pelas subjetividades como anormalidade, uma “anti-utilidade” na sociedade.
Nessa sociedade das coisas, as pessoas só receberão o mínimo necessário para sua subsistência e sua dignidade se puderem trabalhar e ser "produtivas", e na medida que não podem mais contribuir para os processos de "produtividade", vão sendo esquecidas, ignoradas e invisibilizadas.
Outro aspecto do etarismo é a cruel presunção da assexualidade. Tem se no senso comum uma tendência de desconsiderar ou diminuir a expressão da sexualidade e da sensualidade em indivíduos mais velhos. Como dizem “Na velhice se volta a ser criança”. Essa ideia falsa reforça estereótipos negativos e limita a visão de que os idosos também têm desejos, necessidades e uma vida sexual ativa.
Na sociedade das coisas, a sexualidade é associada a corpos cada vez mais jovens (esta associação é ainda mais dura com as mulheres), criando um viés que desvaloriza ou até mesmo invisibiliza a sexualidade dos idosos que resulta em estereótipos de que os idosos não têm interesse ou capacidade de vivenciar relacionamentos íntimos, prazer sexual ou envolvimento romântico.
A assexualização dos idosos tem consequências terríveis. Pode levar à negação de direitos e serviços relacionados à saúde sexual, falta de informação sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, escassez de pesquisas e estudos sobre sexualidade na terceira idade, além de limitar as oportunidades para os idosos vivenciarem relacionamentos afetivos e prazeres relacionados à sexualidade.
O Etarismo está presente em todos os ambientes em que circulo, como academia e universidade, que se manifesta em olhares facilmente decifráveis, a não resposta a um cumprimento, a extrema dificuldade de se criar um ambiente de pertencimento, pelo potencial excludente do preconceito. A frase “tiozão do zap”, esclarece em muito o preconceito social.
É por meio dessa dinâmica de exclusão que, em 15 de junho de 2022, no Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) divulgou dados do Disque 100 (canal para denúncias), informando que, de janeiro a junho de 2022, foram registradas mais de 35 mil denúncias de violações de direitos humanos contra pessoas idosas. O ouvidor nacional de Direitos Humanos, Nabih Chram, acrescentou que "mais de 87% das violações ocorrem na casa onde o idoso reside". Das denúncias, 16 mil ocorreram na residência da vítima e do suspeito. Entre os agressores, os filhos são os principais responsáveis pelas violações, figurando como suspeitos em mais de 16 mil registros, seguidos por vizinhos (2,4 mil) e netos (1,8 mil).
As vítimas com idades entre 70 e 74 anos representam 5,9 mil registros, seguidas pelos idosos de 60 a 64 anos (5,8 mil), de 75 a 79 anos (4,7 mil) e de 85 a 89 anos (3,5 mil).
O título deste artigo é uma referência ao conceito Marxista sobre o “fetichismo da mercadoria”, no qual ele fala de atribuições de qualidades as "mercadorias". É neste universo das “coisas”, que as pessoas que cumprem o ciclo da vida (Nascer, crescer e morrer).O problema é que em determinado período do ciclo natural, é entendido pelas subjetividades como anormalidade, uma “anti-utilidade” na sociedade.
Nessa sociedade das coisas, as pessoas só receberão o mínimo necessário para sua subsistência e sua dignidade se puderem trabalhar e ser "produtivas", e na medida que não podem mais contribuir para os processos de "produtividade", vão sendo esquecidas, ignoradas e invisibilizadas.